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Quando conheci Andrea Loparic, em 1998, a That’s Internet, que ela criara alguns anos antes, ocupava duas salas de um predinho comercial no Butantã, em São Paulo. Fora-me indicada por Antonio Rolim, um amigo comum. Assumiu de pronto a proposta que eu lhe trazia: criar, na rede, a estrutura para a edição brasileira do Le Monde Diplomatique, que começava a nascer. Não havia publicadores automáticos, nem blogs, muito menos redes sociais. Os jornais eletrônicos era feitos na unha, associando código html aos textos. Sentada, espaçosa, atrás de uma pequena mesa e de um cinzeiro repleto de bitucas, assegurou: “o jornal vai sair: as condições, a gente discute depois.

Nada perturbava mais Andrea, àquela época, que o domínio que as grandes corporações começavam a exercer sobre a internet. A pequenina That’s havia sido pioneira. Oferecera serviços de conexão antes mesmo da poderosa Telefonica, que controla a telefonia em São Paulo. Mas a força da grana minava seus esforços. Sem políticas de estímulo à diversidade, como enfrentar o poder econômico dos gigantes?

Foi esta paixão pelas batalhas mais difíceis que levou ela e sua filha Tereza, dois anos depois, a um outro feito: a construção do site do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Talvez tenha sido o primeiro encontro político convocado exclusivamente pela internet. O orçamento apertado não permitia imprimir um único cartaz ou panfleto. O Fórum, a princípio tímido, tornou-se com o passar dos meses um grande evento global. O servidor em que estava instalado não suportava o número de acessos, vindos de todas as partes do mundo. Andrea, que cruzara os 60 anos, passou muitas noites em claro, em busca de saídas – que sempre soube encontrar.

Por trás deste ativismo, havia solidez política. Militante da Ação Popular desde muito jovem, no Recife, estudou Filosofia e tornou-se professora de Lógica, na USP e na UFRGS. É lembrada com admiração e afeto, nas duas universidades. Aposentou-se há pouco mais de dez anos. Dedicou-se ainda mais às causas de sua predileção – uma delas, o apoio às vítimas de perseguição política, entre elas o ex-deputado José Genoíno. Sonhava, às vezes devaneios malucos, com a criação, por meios eletrônicos, de novas redes de militantes.

A saúde abreviou sua estrada. Venceu um câncer, mas não as sequelas da quimioterapia. Quando perdeu a mobilidade, passou a batalhar acamada. Tramava, polemizava e animava pelas redes e pelo telefone. A chama jamais se extinguiu. Deixou-nos ontem. Segue conosco.

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